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HNSG é o primeiro hospital de Curitiba a aplicar novo tratamento aprovado para Alzheimer

O Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), em Curitiba, acaba de se tornar o primeiro da capital paranaense a aplicar o Donanemabe, medicamento recém-aprovado pela Anvisa para o tratamento do Alzheimer em estágios iniciais. A nova terapia representa um marco no enfrentamento da doença ao atuar diretamente na sua causa, e não apenas nos sintomas.

A primeira aplicação foi realizada pela neurologista Dra. Karen Luiza Ramos Socher, coordenadora do Centro de Memória do HNSG e especialista em demências. A paciente tratada já vinha sendo acompanhada há dois anos. “Poder oferecer esse tratamento inovador a alguém que sigo há tanto tempo é emocionante. Representa uma esperança real de desacelerar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares”, afirma.

O Donanemabe é um anticorpo monoclonal que se liga à proteína beta amiloide – que é a responsável pela formação de placas no cérebro dos pacientes com Alzheimer – impedindo o acúmulo de novas placas e ainda ajudando o sistema imunológico a eliminá-las. A terapia é indicada para pacientes com comprometimento cognitivo leve ou demência leve, desde que haja confirmação da presença da proteína no cérebro. “Essa medicação não é indicada para todos os casos, apenas para os estágios iniciais. Ela não cura a doença, mas pode retardar sua evolução de forma significativa”, destaca Dra. Karen.

A neurologista lembra que, no início de sua carreira, esses medicamentos ainda estavam em fase experimental. “Não sabíamos se seriam aprovados ou se funcionariam. Hoje, é muito gratificante poder aplicá-los com segurança e respaldo científico. É uma conquista médica e um avanço importante no cuidado aos pacientes”, comemora.

Para oferecer o novo tratamento com excelência, o HNSG se estruturou com uma equipe multriprofissional dedicada e infraestrutura adequada. A equipe de neurorradiologia foi treinada para protocolos de imagem específicos, além de contar com exames laboratoriais e genéticos de alta precisão e profissionais capacitados para o preparo e a aplicação do medicamento no centro de infusão.

A infusão é realizada mensalmente, por via intravenosa, com duração de uma a 18 aplicações, de acordo com a resposta de cada paciente. A indicação do tratamento é feita de forma individualizada, com base em exames clínicos, laboratoriais e de imagem,como a ressonância magnética; testes genéticos, e biomarcadores.

Comercializado no Brasil pela farmacêutica Eli Lilly com o nome comercial Kisunla, o Donanemabe já foi aprovado em países como Estados Unidos, China e Japão. Os estudos clínicos demonstraram que o medicamento pode reduzir em até 39% o risco de progressão para o próximo estágio da doença e promover a remoção de placas amiloides em até 76% dos pacientes em 18 meses. Em alguns casos, é possível interromper a terapia quando as placas são eliminadas, trazendo previsibilidade ao tratamento.

Para Dra. Karen, a aprovação do Donanemabe marca o início de uma nova era no combate ao Alzheimer. A médica também reforça a importância do diagnóstico precoce: “Infelizmente, a maioria dos pacientes só busca atendimento quando os sintomas já são moderados ou avançados. Precisamos conscientizar a população sobre a importância de investigar qualquer alteração de memória o quanto antes”, diz.

A neurologista ainda destaca que cerca de 45% dos casos de demência poderiam ser prevenidos com ações simples de saúde pública. “Baixa escolaridade, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, consumo excessivo de álcool, problemas auditivos e visuais não tratados, isolamento social e depressão são fatores de risco que precisam ser conhecidos e combatidos”, alerta.

A doença de Alzheimer é uma condição neurológica progressiva que afeta a memória, o raciocínio, o comportamento e a capacidade de realizar tarefas cotidianas. Embora atinja principalmente pessoas acima dos 60 anos, pode ocorrer em idades mais precoces. Esquecimentos frequentes, repetição de perguntas, confusão com datas ou lugares e mudanças de humor podem ser os primeiros sinais. O diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença no curso da doença.

Por Mônica Neves, em 23/06/2025.